sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

PARA QUE VOCÊ NÃO SE ENGANE, NEM SE ESCONDA DE SI MESMO

De: Pedro Porfírio
Para: Edson Nogueira Paim
Data: 13/12/07 23:16
Assunto: PARA QUE VOCÊ NÃO SE ENGANE, NEM SE ESCONDA DE SI MESMO


PARA QUE VOCÊ NÃO SE ENGANE, NEM SE ESCONDA DE SI MESMO

MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 14 DE DEZEMBRO DE 2007


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"Da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais".

Bertold Brecht - no poema "O analfabeto político"

Bem que eu ia falar das últimas, mas hoje preferi tentar provocar sua mente e seus brios. Razões me sobram para tal. Por nosso planalto e nossas planícies faz-se tanta lambança que dá dó e, como a grande mídia engolfa o raciocínio da massa às voltas com os presentes natalinos, fica difícil comentar isso e aquilo sem correr o risco do mal-entendido.

Se você não estiver aberto a questionamentos, melhor parar por aqui e se ligar na tv, que deve estar emitindo seus astutos códigos eletrônicos, aí na sua sala.

A espécie humana é susceptível às mais primárias manipulações. O analfabetismo político grassa como uma erva daninha. Já não somos apenas uma sociedade de robôs: viramos uma multidão de ventríloquos que, por termos perdido o hábito de ver com os próprios olhos, também abrimos mão de falar por nossa cabeça..

Já não falo de impulsos das paixões, que estas parecem em decomposição. Assusta-me o mais grave: a metamorfose do comportamento e a volubilidade das atitudes não são exclusividades dos que estão sob as luzes da ribalta, dispostos a tudo para lá permanecerem diante do seu silêncio.

Olhe-se você mesmo, com toda a sinceridade, com a honestidade dos tempos de sua ingênua puberdade. Onde estão seus antigos ideais? Ou você não se sente obrigado a se olhar no espelho quebrado?

A mesma lógica

Cá entre nós: você sabe muito bem do que estou falando. No microcosmo do seu cotidiano, você reproduz o mesmo espúrio jogo do poder motorizado pela lógica de que quem não está por cima é o vilão.

Os podres poderes estão cada vez mais viróticos na indução da inércia e na produção das cortinas de fumaça. Você, meu caro, enreda-se na teia, crente que está abafando. Uma pena. Você não procura nem saber onde o galo canta. Senta-se diante da tela colorida e armazena sua descarga eletrônica. Não mais.

Como renunciou ao significado da palavra, aceita, repete e dissemina suas arbitrárias conotações, suas manipuladas informações, servidas como sobremesas do jantar.

Vou lhe dizer uma verdade, sem querer fazer-me seu dono: você perdeu o fio da meada e, por conseqüência, dança conforme uma ária orquestrada. De tal forma foi robotizado que já não sabe nem o que dizer em casa. Sua conversa doméstica também está sendo pautada pelos mágicos poderes da telinha. Insisto nisso, mas juro que não estou querendo lhe ofender: antes, abrir seus olhos é meu único desejo.

Falo com tal franqueza porque é da minha natureza. Eu não vivo de vender opiniões - prefiro oferecê-las com a pureza d'alma. E não faço nenhum favor em assim postar-me. Faço, sim, o exercício de uma tensa inquietação.

Porque eu passo, você passa. Daqui a pouco, não estaremos mais aqui olhando as vitrines iluminadas. Mas nossa descendência não pode pagar pela nossa omissão ou pela nossa idiotice.

Pelo andar da carruagem, as futuras gerações estarão num deserto sem oásis. Muitos de nós tivemos mais sorte dos que os ancestrais. Hoje, o destino inverteu-se. Vive-se mais, aprende-se menos. E cada um cuidando de si, de suas idiossincrasias, das suas ambições pessoais, egoístas mais da conta, sem freios, nem regras, sem limites, nem pudores.

Estamos nos enganando

Isso é trágico porque não há arsenal atômico mais mortífero do que um caráter corroído. Aí entra a minha interpretação patética: todos nós, ricos ou pobres, absorvemos com tal descuido as deletérias hipocrisias da vida que já nos rendemos à terrível faina de nos enganarmos a nós mesmos.

Digo e provo: um certo ópio do oportunismo move os passos dos indivíduos, que perderam a confiança na probidade e na generosidade como fio condutor. A droga da esperteza enraizou-se como uma septicemia que opera sobre o inconsciente, enquanto alimenta como dádiva compensatória os cérebros pervertidos dos destituídos de qualquer escrúpulo.

Isso se aplica também aos movidos a ódios mortais. Nestes, o juízo crítico e senso de justiça sumiram na própria insatisfação existencial. Alguém que vê fantasmas a ameaçá-lo noite e dia, que imagina como inevitável um mundo em conflitos, que não se resolve sem uma agressão, um vitupério, um anátema, que criminaliza os opostos nas bulas da intolerância, com toda certeza é um infeliz que se esconde de sua própria natureza, afetada por traumas e perversas frustrações.

Nesse clima de miniaturização do ser humano, é cada vez mais difícil trocar idéias, que estas parecem evaporar-se na estufa da mediocridade reinante. Daí não me surpreender o rosário de epítetos rancorosos para desmerecer heróis despojados que ofereceram suas vidas nos sonhos que os embalaram.

Fazer o quê? O que você leu nos últimos meses além dos jornais comprometidos com o sistema que paga suas faturas?

Sabe mais? É por causa da sua miopia deliberada, de sua alienação inercial que a súcia despudorada pinta e borda nesses poderes corrompidos de fio a pavio.

É isso mesmo: eles fazem você de bobo, oferecendo-lhes cartas marcadas. Ou você não percebeu que fizeram essa guerra toda da CPMF para garantir o ouro dos bandidos com a prorrogação até 2011 da DRU - Desvinculação de Receitas da União - que permite o desvio do dinheiro da educação para os especuladores?

A CPMF podia ser até extorsiva, mas tinha o mérito de identificar o mapa da grana. Agora, nem mel, nem cabaça. Nem 0,01% os que deram atestado de inocência a Renan Calheiros iam tolerar, porque não querem que os mensalões fiquem vulneráveis.

Eu não queria comentar as peraltices dessa turma da pesada, que não está lá, sobre o tapete azul, para servir a Pátria. Ao contrário, como já dizia o Marquês de Maricá, prefere dela se servir - e insaciavelmente.

Queria falar de você - de nós - porque afinal você os fez seus mandatários e ainda enche a boca para dizer que vivemos numa democracia exemplar, enquanto o caboclo de Barinas é um ditador, mesmo tendo o hábito de consultar seu povo em repetidos referendos, em emendas constitucionais como a CPMF e a DRU..

É a você que me dirijo, lamentando que não tenhamos um índio aqui disposto a resgatar as riquezas saqueadas. Porque você pega pilha na telinha ou nos recintos da mentira e da intolerância, diz meia dúzia de sandices e depois volta para o seu mundinho, onde o desprezo pelo conhecimento não é diferente das notas vergonhosas dos nossos alunos de português e matemática.

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