segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A VITÓRIA DA DERROTA NO EMPATE TÉCNICO (II)

De: Pedro Porfírio
Para: Edson Paim
Data: 09/12/07 20:48
Assunto: A VITÓRIA DA DERROTA NO EMPATE TÉCNICO (II)



MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 10 DE DEZEMBRO DE 2007

http://www.tribunadaimprensa.com.br/porfirio.asp

Embora as medidas iniciais do governo para permitir atingir a orientação da sua Terceira Via não fossem um ataque ao capitalismo em si mesmo, a reação da oligarquia privilegiada da Venezuela (apoiada totalmente pelo imperialismo americano) mobilizou as massas nos locais de trabalho e nas comunidades e conduziu a Revolução Bolivariana por um caminho que se foi afastando do capitalismo.
Michael A. Lebowitz, professor na Universidade Simon Fraser (Canadá), e autor do livro Build it Now: Socialism for the 21st Century

O ex-líder da guerrilha venezuelana, Douglas Bravo, que recebeu Pedro Porfírio na véspera das eleições de 2006, manteve-se irredutível no seu confronto com Chávez, com quem conspirou até 1991, mesmo sabendo que estava subindo no palanque da direita, ao lado dos aliados do dos interesses norte-americanos, e mobilizou simpatizantes para votar no "não".

Quando estive em Caracas, no auge da campanha presidencial de 2006, fui visitar e entrevistar Douglas Bravo, ex-líder da guerrilha venezuelana das décadas de sessenta e setenta, considerado o primeiro a influenciar Hugo Chávez, com quem partilhou de reuniões clandestinas até 1991, quando se desentenderam.
Pessoalmente, vivia uma emoção semelhante a do dia em que conheci e conversei com Che Guevara, nos meus 17 anos de precoce envolvimento político. Com o legendário guerrilheiro argentino-cubano teria outros papos informais, já nos anos 61/62, período em que, apesar de muito jovem, trabalhei em Havana como jornalista.
Mas Douglas Bravo era para mim apenas uma referência à distância. Nos anos sessenta, acompanhava as façanhas de suas Forças Armadas de Libertação Nacional nos Estados de Falcón e Mérida e o considerava o mais consistente líder guerrilheiro da América do Sul.
Ao ir ao encontro de Douglas Bravo em companhia do jovem jornalista Wellington Mesquita, que já estava em Caracas há uns seis meses, eu sabia de suas opiniões críticas sobre o presidente Chávez. Só não esperava que fossem tão radicais e ferinas.
"Oposição de esquerda"
Apesar dos seus 75 anos de idade, ele parecia bastante conservado e disposto a sustentar o confronto com o seu "ex-parceiro", a quem acusava de fazer um discurso antiimperialista, enquanto legitimava os contratos de exploração do petróleo, através de companhias mistas, com as multinacionais estrangeiras, além de legalizar propriedades rurais, "griladas por fazendeiros ao longo dos anos", em troca de uma reforma agrária pontual.
Apesar do clima emocional daquele encontro num apartamento modesto da Avenida Bolívar, eu e o jornalista Wellington Mesquita (hoje da Rádio Jovem Pan, em São Paulo), ficamos sem entender a postura intransigente de um antigo marxista, que se aliava, ainda que indiretamente, à oposição de direita, já enxertada por outro ex-guerrilheiro comunista, Teodoro Petkoff, fundador do partido Movimiento al Socialismo e hoje dono de um jornal sustentado pela fina flor da elite venezuelana.
Douglas Bravo garantiu que não tinha nenhum contato com os adversários tradicionais de Chávez, embora, por aqueles dias, seu nome tivesse aparecido no livro "La CIA en Venezuela" do professor José Sant Roz, entre os colaboradores da agência norte-americana de espionagem.
Apesar da conversa de 2006, eu imaginava que a reforma constitucional de inspiração socialista iria reaproximar o ex-guerrilheiro do principal alvo da campanha orquestrada pelas elites da Venezuela e pelo governo Bush. Afinal, como conta o biógrafo Alberto Garrido, "Chávez teve uma intensa relação de discípulo com Douglas Bravo, com quem rompeu em 1991".
No entanto, ao lado dos trotskistas radicais, Bravo subiu ao mesmo palanque dos partidos de direita e no dia 25 de novembro, a uma semana do referendo, reuniu ex-guerrilheiros e militantes da sua esquerda para proclamar seu apoio oficial ao "não".
Na sua visão, a mudança da Constituição, aprovada na Assembléia Nacional e rejeitada no último dia 2, introduziria não uma democracia direta, como afirma Chávez, mas um controle "militarista" sobre a população. "A Constituição de 1999 era neoliberal, mas parlamentar", disse Bravo, referindo-se à Carta aprovada no primeiro ano do primeiro mandato de Chávez. "A de 2007 é militarista."
Aliança de ocasião
E foi ainda mais incisivo ao dizer que Chávez firmou um "pacto" com o Grupo Cisneros, o maior do país, (dono da Venevison, a maior rede de tv e de outras grandes empresas) que teria abandonado uma posição crítica e passado a apoiar o governo. "Precisamos de um pacto popular, que substitua o pacto Cisneros-Chávez-Carter", propôs aos militantes de esquerda, numa referência a um encontro entre Chávez e o empresário Gustavo Cisneros, mediado pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, em 2004.
Do mesmo grupo, o ideólogo marxista e professor da Universidade Yacambu, Pablo Hernández, ressaltou que "a essência da reforma está na legalização das empresas de economia mista para a exploração do petróleo e dos outros recursos minerais", um retrocesso, na visão dele, em relação à nacionalização de 1976.
Os organizadores do encontro disseram que vinham mantendo contatos com o general Raúl Isaías Baduel, ex-comandante do Exército, que rompeu com Chávez em outubro, meses depois de passar para a reserva com um discurso contrário à proposta de uma sociedade socialista, anunciando, na véspera do referendo que, se o "sim" ganhasse, iria contestar seu resultado no Judiciário.
Tal também foi a postura de, outro ex-guerrilheiro, Francisco Prada Barazarte, que conheci no apartamento de Douglas Bravo, que declarou em Trujillo, no dia 18 de novembro, que a reforma proposta por Chávez e combatida ostensivamente por Bush "lesiona, como jamais se havia proposto antes, os interesses da Venezuela e sua soberania".
Como você vê, na hora em que aparece um líder autóctone deste lado do equador, o sistema internacional sabe muito bem tirar proveito de conflitos, sentimentos rancorosos e variações do esquerdismo para obter uma vitória de pirro, o que não deixa de ser divertido.
Muitos dos que torciam pela derrota de Chávez o consideram "um perigoso comunista" até porque, submetidos a uma lobotomia virtual ou submissos aos donos do mundo, são capazes de desfilar com a bandeira norte-americana, como fez um jovem na comemoração do "não", segundo relato do jornalista Luiz Carlos Azenha (http://br.youtube.com/watch?v=9xjp2jmjciI&feature=PlayList&p=4C5F136640A39755&index=4)
Isso, no entanto, só serve para confirmar minha convicção de que se deu na Venezuela uma irônica vitória da derrota no "empate técnico", que fará ainda muita água correr por baixo da ponte.
coluna@pedroporfirio.com


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