segunda-feira, 22 de outubro de 2007

GLOBALIZAÇÃO DE MÃOS SUJAS

De: Pedro Porfírio
Para: Edson Paim
Data: 19/10/07 02:14
Assunto: GLOBALIZAÇÃO DE MÃOS SUJAS



MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 19 DE OUTUBRO DE 2007

http://www.tribuna.inf.br/porfirio.asp

A interposição fraudulenta é antiga e é sistematicamente investigada pela Receita. A diferença é que agora estamos alcançando o real beneficiário das fraudes". (Gerson Schaan, coordenador de pesquisa e investigação da Receita Federal, referindo-se à multinacional norte-americana Cisco)

O desbaratamento pela nossa Polícia Federal e pela Receita de um sofisticado esquema de fraudes, contrabando e corrupção envolvendo uma das gigantes norte-americanas de informática mostra os riscos a que estamos expostos nessa febre de importação que tantos danos tem causado ao povo brasileiro, em nome da "globalização inevitável. Para mim, essa trama tem a ver com as mágicas que levam ao fechamento de fábricas no Brasil, onde a mão-de-obra é pessimamente remunerada, e até mesmo à conspiração que pôs no chão a nossa mais tradicional companhia aérea. Nesse mundo forçadamente globalizado nada acontece isoladamente.

Ele é absolutamente perverso e desigual, transformando países como o Brasil em verdadeiros reféns de insaciáveis interesses supranacionais, tão criminosos que são capazes de transformar bandeiras de grande apelo popular - como a causa indígena e a questão da ecologia - em cavalos de tróia para a exploração "protegida e camuflada" de nossas riquezas.

Para que você entenda o alcance da grande trapaça, procure saber de alguns fatos que aparecem como altamente positivos, mas que, na verdade, escondem um jogo perigoso e incontrolável. Veja, por exemplo, a "valorização" da nossa moeda.

Tem gente cheia de si, pensando que esse é um indicativo de que nosso País está atraindo um capital estrangeiro voltado para investimentos de olho no nosso mercado. E não é qualquer um que trabalha com esse raciocínio.

No entanto, se fizermos o inventário dos dólares que estão chovendo em nossa horta, contribuindo inclusive para sucessivos e festejados recordes da Bolsa de Valores de São Paulo, vamos nos deparar com um dinheiro volátil, sem compromisso, que aporta por aqui única e exclusivamente com fins especulativos.

É um dinheiro tão sujo e tão poderoso que já se sobrepôs à meta de queda de juros do Banco Central. Este mês, o Conselho de Política Monetária decidiu interromper as reduções da taxa básica, mantendo-a ainda em patamares atrativos para os especuladores.

Isso se junta ao fenômeno da desvalorização do dólar. Em nosso País, a moeda americana teve uma perda três vezes maior do que na média mundial. Como é vantagem aplicar no sistema financeiro por aqui, os grandes especuladores ganham de várias formas - tanto nos juros, como nos aumentos do índice da bolsa, como na queda da cotação da moeda a que estamos atrelados, o que estimula as importações no Brasil.

Processa-se em grande escala, criminosamente, o esvaziamento de nosso parque industrial, com o aumento do setor comercial e de serviços, este em mãos de grandes multinacionais. Não é por acaso que hoje lhe oferecem um aparelho celular de graça. Eles vão ganhar mesmo é no grande manjar, a conta telefônica com uma margem de lucro tão escandalosa que continuam ludibriando a todos. A operação com a telefonia sem fio é muitas vezes mais barata do que com o velho sistema: no entanto, pagamos mais quando ligamos para um celular do que para o aparelho fixo.

Contrabando made in USA

O que aconteceu no caso da multinacional norte-americana, cujos principais executivos passarão alguns dias na cadeia junto com outros cúmplices?

Esses meliantes, que nos surrupiaram pelo menos 1 bilhão e meio de reais (é dinheiro que não acaba mais), estão sendo indiciados pela Polícia Federal, pilhados numa organização formada para fraudar importações de produtos de informática e telecomunicações, conforme rastreamento competente do pessoal da Receita Federal.

Entre seus crimes já detectados estão contrabando, sonegação, falsidade ideológica, evasão de divisas, interposição fraudulenta, ocultação de patrimônio, uso de documento falso, formação de quadrilha e corrupção. Esse menu pode ser ampliado após análise do material apreendido em empresas e casas dos acusados.

Para variar, a matriz da Cisco Systems se disse surpreendida pelas peripécias dos seus cabeças na América Latina. E ainda teve o desplante de dizer que pretende colaborar com as investigações. Não é para menos. Essa empresa tem ações na bolsa de Nova York, e por menos disso foi à lona outra gigante de lá, a Enron (que andou por aqui mamando nas privatizações). Veja mais detalhes das peripécias da grande empresa norte-americana:

A expectativa da PF e da Receita é que a polícia americana aprofunde as investigações sobre a matriz da Cisco e as filiais da Mude nos EUA. Mude é uma estranha e ativa subsidiária do grupo. A operação mostrou que cinco empresas nos EUA, envolvidas nas atividades ilegais, estão em nomes de brasileiros. Segundo fontes da Receita, são exportadoras que funcionam como laranjas, vendendo produtos fabricados para seis importadoras no Brasil, também laranjas.

Os técnicos do Fisco afirmam que as importadoras estão em nome de pessoas que não têm renda compatível com operações desse porte: "São pessoas que têm renda baixa e moram em lugares simples", disse um funcionário.

Outras duas empresas situadas no Brasil funcionavam apenas como fornecedoras de notas fiscais. Pela fraude, a mercadoria chegava ao Brasil e ia para o galpão da empresa. Depois, outra nota fiscal era emitida, e os produtos seguiam para os verdadeiros compradores.

Estamos falando de contrabando de material de informática, mas poderíamos falar de outros produtos, com outros personagens, é claro. Ou você pensa que a droga consumida no Brasil é refinada aqui?

MINISTRO DO TRABALHO NO JACAREZINHO

É sobre o risco de que o fechamento da GE representa para a economia do País que vamos conversar neste sábado, em pleno Jacarezinho, com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Seu ministério tem hoje uma grande responsabilidade, a defesa do emprego dos brasileiros, e é preciso que se criem as condições para manter a produção de lâmpadas aqui, inclusive de fluorescentes compactas, como era da meta inicial da empresa.

Permitir que voltemos a ser importadores de produtos de consumo obrigatório, como lâmpadas, é abrir espaços para alimentar esquemas internacionais de negócios em que só temos a perder.

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